domingo, 19 de dezembro de 2010
Temas: | Vila Franca de Xira
Hospital sob investigação por discriminar seropositiva
14:19
A Inspecção-geral das Actividades em Saúde (IGAS) está a investigar uma denúncia de discriminação de uma doente seropositiva e portadora de hepatite C durante um internamento no Hospital Reynaldo dos Santos, em Vila Franca de Xira. O processo de inquérito foi instaurado a 6 de Dezembro. M. J., 38 anos, questiona terem-lhe dado talheres descartáveis em todas refeições, o facto de alguns auxiliares terem usado mais do que um par de luvas quando a assistiam e de, em mês e meio de internamento, só ter tido uma companheira de quarto, quando havia mais duas camas livres.
Casos como este não são inéditos na IGAS, mas são raros. Este é o primeiro interposto com o apoio jurídico do centro antidiscriminação lançado este ano pela Ser+ (Associação Portuguesa para a Prevenção e Desafio à Sida) e pelo GAT (Grupo Português de Activistas sobre Tratamentos de VIH/sida). Desde Fevereiro receberam 30 denúncias, a maioria relacionada com profissionais de saúde. M.J., foi a primeira a avançar para uma queixa formal. Ao i diz que o caso é para levar até ao fim. "Temos de começar a fazer qualquer coisa. Conheço casos tão graves ou até piores do que o meu, mas as pessoas não falam. Umas por receio, outras porque são situações difíceis de provar." A investigação em curso na IGAS poderá ter três desfechos: o arquivamento - caso as justificações do hospital sejam satisfatórias - um procedimento disciplinar ou recomendações ao corpo clínico, para prevenir situações futuras.
O caso A 22 de Agosto M. J. sofre um acidente de viação que a deixa em risco de vida. Dá entrada no Hospital de São José, em Lisboa, com um traumatismo craniano, duas costelas partidas e fracturas expostas no fémur e na tíbia. É operada de urgência nesse domingo e fica nos cuidados intensivos até quinta-feira, quando é transferida para o serviço de Ortopedia do Hospital Reynaldo dos Santos, na sua área de residência. Ficaria internada durante mês e meio.
"Como estava medicada com morfina lembro-me muito pouco dos primeiros dias", conta M.J. Logo que recuperou a consciência, começou aperceber-se de sinais errados. Ela e o filho, de 14 anos. "Um dia perguntou-me porque é que o auxiliar tinha posto dois pares de luvas para mexer numa arrastadeira." Os talheres descartáveis também foram uma surpresa - mesmo para quem está habituada a esperar até ao final da lista de pacientes no atendimento hospitalar, como já voltou a acontecer quando foi retirar uma prótese da perna ao Hospital da Luz. "Se é por medo de infecção, sou a primeira vítima: uma gripe que apanhe pode matar-me. Por outro lado, questiono que tipo de limpeza será feita depois de cada intervenção."
Numa das refeições no Hospital de Reynaldo dos Santos, o marido apanhou uma folha de serviço da cozinha deixada no quarto e viu que M. J. era a única com a indicação de louça descartável. "Além de ser discriminatório, violaram o meu direito de confidencialidade. Todas as pessoas, da cozinha aos auxiliares, ficaram a saber que tinha uma doença infecciosa." Todos, menos a colega do quarto, que um dia questionou porque é que, com o serviço de Ortopedia lotado, as duas outras camas do quarto nunca foram ocupadas. "Enquanto lá estive, nunca disse nada. Estava à mercê deles", justifica. Outra coisa que não questionou foi nunca lhe terem sido administrados anti-retrovirais. "Disseram-me que o hospital não tinha infecciologista", justifica. A medicação era-lhe trazida todos os dias pelo marido, de casa.
Ana Alcazar, directora clínica do Hospital de Reynaldo dos Santos, assegurou ontem ao i não ter havido qualquer situação de discriminação durante o internamento da paciente. "O hospital teve os comportamentos adequados perante um doente do foro infeccioso." Numa carta enviada a M.J., a responsável informa "não existir qualquer documento com instruções para que as refeições sejam servidas em louça descartável a doentes com VIH/sida."
A folha de serviço, a que o i teve acesso, não explicita a condição da doente mas refere a indicação de louça descartável. Ana Alcazar adianta que há doentes que até a preferem e não vê nessa rubrica uma situação de discriminação. Quanto às camas vagas, esclarece que se não foram ocupadas foi por não haver necessidade. "Temos poucas camas e até costumamos colocar doentes de outros serviços em Ortopedia. Não me posso dar ao luxo de deixar camas vagas."
Casos como este não são inéditos na IGAS, mas são raros. Este é o primeiro interposto com o apoio jurídico do centro antidiscriminação lançado este ano pela Ser+ (Associação Portuguesa para a Prevenção e Desafio à Sida) e pelo GAT (Grupo Português de Activistas sobre Tratamentos de VIH/sida). Desde Fevereiro receberam 30 denúncias, a maioria relacionada com profissionais de saúde. M.J., foi a primeira a avançar para uma queixa formal. Ao i diz que o caso é para levar até ao fim. "Temos de começar a fazer qualquer coisa. Conheço casos tão graves ou até piores do que o meu, mas as pessoas não falam. Umas por receio, outras porque são situações difíceis de provar." A investigação em curso na IGAS poderá ter três desfechos: o arquivamento - caso as justificações do hospital sejam satisfatórias - um procedimento disciplinar ou recomendações ao corpo clínico, para prevenir situações futuras.
O caso A 22 de Agosto M. J. sofre um acidente de viação que a deixa em risco de vida. Dá entrada no Hospital de São José, em Lisboa, com um traumatismo craniano, duas costelas partidas e fracturas expostas no fémur e na tíbia. É operada de urgência nesse domingo e fica nos cuidados intensivos até quinta-feira, quando é transferida para o serviço de Ortopedia do Hospital Reynaldo dos Santos, na sua área de residência. Ficaria internada durante mês e meio.
"Como estava medicada com morfina lembro-me muito pouco dos primeiros dias", conta M.J. Logo que recuperou a consciência, começou aperceber-se de sinais errados. Ela e o filho, de 14 anos. "Um dia perguntou-me porque é que o auxiliar tinha posto dois pares de luvas para mexer numa arrastadeira." Os talheres descartáveis também foram uma surpresa - mesmo para quem está habituada a esperar até ao final da lista de pacientes no atendimento hospitalar, como já voltou a acontecer quando foi retirar uma prótese da perna ao Hospital da Luz. "Se é por medo de infecção, sou a primeira vítima: uma gripe que apanhe pode matar-me. Por outro lado, questiono que tipo de limpeza será feita depois de cada intervenção."
Numa das refeições no Hospital de Reynaldo dos Santos, o marido apanhou uma folha de serviço da cozinha deixada no quarto e viu que M. J. era a única com a indicação de louça descartável. "Além de ser discriminatório, violaram o meu direito de confidencialidade. Todas as pessoas, da cozinha aos auxiliares, ficaram a saber que tinha uma doença infecciosa." Todos, menos a colega do quarto, que um dia questionou porque é que, com o serviço de Ortopedia lotado, as duas outras camas do quarto nunca foram ocupadas. "Enquanto lá estive, nunca disse nada. Estava à mercê deles", justifica. Outra coisa que não questionou foi nunca lhe terem sido administrados anti-retrovirais. "Disseram-me que o hospital não tinha infecciologista", justifica. A medicação era-lhe trazida todos os dias pelo marido, de casa.
Ana Alcazar, directora clínica do Hospital de Reynaldo dos Santos, assegurou ontem ao i não ter havido qualquer situação de discriminação durante o internamento da paciente. "O hospital teve os comportamentos adequados perante um doente do foro infeccioso." Numa carta enviada a M.J., a responsável informa "não existir qualquer documento com instruções para que as refeições sejam servidas em louça descartável a doentes com VIH/sida."
A folha de serviço, a que o i teve acesso, não explicita a condição da doente mas refere a indicação de louça descartável. Ana Alcazar adianta que há doentes que até a preferem e não vê nessa rubrica uma situação de discriminação. Quanto às camas vagas, esclarece que se não foram ocupadas foi por não haver necessidade. "Temos poucas camas e até costumamos colocar doentes de outros serviços em Ortopedia. Não me posso dar ao luxo de deixar camas vagas."
Fonte: ionline.
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